sábado, 21 de março de 2015

Filtro dos Sonhos

                      

A felicidade está em tudo que é imaterial. É a vitória do espírito sobre a matéria. Com você eu me realizaria mesmo em meio ao nada. Você, minha matéria mais imaterializada...
Vejo suas partículas; posso até ver cada camada da sua epiderme... mas o que sinto é capaz de ver o que é invisível. E é neste lugar que encontro o que há de mais belo em você. Que é imutável, é engenhoso... Misterioso, saboroso. Intrigante. Por vezes revoltante, já que em qualquer circunstância nos voltamos para nós, caso saiamos para passear num ambiente não tão bonito, sombrio. Malévolo. Odioso. Mas... este lugar pede o retorno. Então, como não enaltecê-lo? O importante mesmo é não ignorá-lo, já que não quero ficar neste lugar por falta de forças para lutar por você. Acho difícil isso suceder. O real me assusta. O sonho me protege. Por incrível que pareça; o sonho é uma certeza, e o real é incerto, indeciso, ansioso e medroso.
Por isso fujo para o sonho e gosto de me conectar com você por lá. Acordado ou dormido, o sonho é um alívio. Mesmo aqueles que vêm para nos trazer à realidade.
Hoje eu tive um sonho esquisito, não me lembro ao certo, mas me afetou completamente. A intensidade. Nos pesa. É assim que me sinto agora. Não me recordo do sonho, porém o mesmo não ficou só no travesseiro. Atravessou o portal de seu mundo para me rodear. Sei que é só alarde. Logo ele retornará para o seu habitat. Quem sabe trazendo-me novas fantasias e certezas, assim que me deitar em sua cama e mirar o filtro dos seus olhos que filtra todos os meus sonhos?



 
 

domingo, 15 de março de 2015

Que Sede de Amor

Este que parece ter me consumido. E mesmo sentindo-o tanto, de forma tão intrigante, é como se nunca tivesse existido. Não assim. Tão assado, fervilhante...
Sem queimar, levanta vapor. Não sua. Suaviza. Traz água, mesmo sem sede alguma. Água na boca... Pingada, jorrada, por fim, em litros. É o que me desafoga.
Alimenta minha alma, protege-me das poluições sem lixiviar a matéria orgânica...

Clareia o que vira turvo, desenterra o que gera fungo... Derrete o que causa ressentimento.
Há entardeceres que me fazem sentir como uma folha nova, de primavera. Como se eu tivesse um protetor solar natural, que sempre quando o sol quer me ver de perto, olhar meus olhos, é você quem chega antes, num ato invasivo... Você. Meu anoitecer mais esperado, a cada dia, sem fila, afia seu peito no meu e diz com afinco que é aqui que deveríamos estar. Apunhala meu coração quando me faz lembrar de nossas saudades, de um tempo tão recente, mas que tem passado tão depressa! Como se fôssemos crianças receptivas a cada momento, futuro e passado, tornando o presente todo entregue a nós... A noite, me pego pensando onde mais poderíamos estar... Num lugar mágico, num tempo que não deve ser atual... Mas me é tão familiar; sei que um dia iremos para lá... E sei exatamente o que sentirei...
Hoje, mesmo sem mar, é no córrego deste colchão que me arrasto para os seus braços, em direção ao oceano, este que nos é tão comum, e tem como fim a vista para a montanha mais alta de qualquer vale que valha ser visto, com ou sem visto, ilegal ou clandestino, crime seria não lhe avistar... O passaporte se torna apenas passatempo com suas mãos nas minhas. Bagagens? Bobagem! Necessaire?!
Ah, só você, mesmo...




Imune Combustão

É tão ruim não poder te ouvir. Não ouvir o som que ecoa da sua voz. É ruim mastigar suas palavras sem poder digeri-las. Tampouco dirigi-las, e tudo ficar assim, sem controle nem direção... O que são as palavras perto do que sentimos? Elas parecem estar escritas numa lápide, quando todos passam os olhos nas letras, mas são tão insignificantes que não calam a dor no peito de quem ficou na superfície. Não calam, nem falam; sentem. Não sei o quê... Sentem. De mãos atadas, trêmulas, tudo parece tão complexo. É preciso ligar os pontos, mas o cérebro não mais funciona, quanto mais para fazer ponto e cruz! Até o olhar mais doce desce da forma mais amargurada. Um bom dia é miséria. Boa tarde, pra quê mesmo serve?! Boa mesmo era a noite em que havia sonhos. Os meus e os seus, compartilhados sob o mesmo lençol; este que teimava sempre em se desgrudar do colchão só para ouvir mais de perto as nossas confissões...
Confesso que nada mais importa e nem importa mais. Confesso que estarei em sua porta. Prostrada, posso nem bater. Mas lá estarei...
Aqui onde estou não é seguro. Podem ouvir meus passos... Preciso ser breve para te refugiar comigo; assim não seremos vistos... A diferença estará em tê-lo em meus braços, qualquer desconforto ou suspeita poderá ser negada ou aceita, nessas condições. Esse aperto que me afronta me diz, grita, que nunca vou deixá-lo. Por mais longo que seja o tempo ou o espaço...
Tortura-me! Não me é venoso. Aplicas o golpe que quiser em mim, porque já me tornei imune a essa dor, em nome deste, ah, o seu amor!