sábado, 27 de fevereiro de 2016

Cubismo Surrealista

Você desenha, eu escrevo, eu ouço, eu te vejo, te anseio, te descrevo, num ninho emaranhado de palavras, te desenrolo, você me alinha em suas curvas côncavas e eu escorrego por entre seu círculo...
Dos seus dedos faço uma dedicatória, do seu peito faço um enredo, dos seus lábios faço um suspiro, da sua boca faço uma parada; com seus pés me sinto aconchegada, sob suas pernas só quero tocá-las... Mas quando olho em seus olhos...
Me perco de todos os preceitos, me umedeço em seu aperto; evoco um grito que não chega, apenas silencia o que me rodeia... Dispensa qualquer causa, anula qualquer despedida, se entrega ao menor sinal, engrandece o que parece banal, enobrece um sentimento infernal, para santificá-lo. 
Aos pedaços, pouco a pouco, consigo retornar à vida... ponho meus pés no chão e de repente vira dia!
Te cumprimento, com majestosidade; você me inventa e retornamos ao nosso meio principal, com papel e caneta nas mãos, alinhando nossos sonhos, velejando nossos barcos, em rumo ao nada; buscando tudo, do Japão à Itália, o mundo nos parece pequeno diante de tanta sede acumulada, mas que de outra forma então é saciada...


























sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Montanha-russa

O sexo não deve ser feito por tédio. Pode ser feito a qualquer hora, desde que se tenha entrega. O sexo pode ser quente, morno e até congelante. Sexo tem sede, tem cheiro e sabor; ele pede esse ardor em clamar por ele. Sexo despido, sexo unido, sexo de qualquer cor. Exala-se sexo porque ele nos chama... Flor que brota e desbota, que entre as juntas faz tudo juntar-se, o meu e o seu sexo, os seus testículos e os meus mamilos, meus ovários por ti fecundados... o nexo e o desconexo, a minha luz e a sua chama, sempre. Me chama...



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Pé-de-Noz

Que vontade de chegar... Mesmo que seja a nenhum lugar. De voar prum mar sem fim, me afogar num pomar de frutas mil... De comer arroz doce salpicado com canela em pó, doce, doce, doce... Traz junto aquele gosto da infância? Que vem de um reino tão distante e irreal? Que jura de pé junto que preciso dele pra seguir em frente. "Não esqueça das suas raízes." Como esquecer do gengibre? Ah, esse cheiro inexplicável. Não dá pra decifrá-lo. Apenas apreciá-lo com toda a sensatez do mundo. "Mais noz-moscada? Pode pôr!" É sempre bom garantir quando trata-se de noz...que de nó em nó ficamos presos no espaço, à espera de nos aconchegarmos em nossos braços, que mesmo soltos pedem um peso. Um embalo... Já que os ponteiros nunca deixam de badalar, também não posso me paralisar e ver-me sem você... Físico ou biológico, meu organismo funciona como um reloginho quando se trata de tratar-te. Não tem hora, não tem minuto, não tem segundo que eu não me lembre de pensar em você...

Lu e Bru...:)

Qual a altura do seu sonho?

Percebi... Que é aqui que gosto de ficar. Que quando algo me leva para longe, tudo fica submerso -sem nexo - sem contexto nem desejo. Quero volta e meia voltar... Sentir o gosto da água salgada do seu mar. Que é imutável mas sempre, constantemente renovada. Mesmo que seja de lembranças que voltam, são outras; novas.
Vem, goteja-me com seu soro mágico; alimenta-me nem que seja com o último toque de vida. Ria, pois quando miro-te neste estado, tudo volta à tona... Que é triste, alegre, fim e sem fim. Tudo migra-se para um universo paralelo, onde o horizonte acolhe mas também expande. Coloca tudo numa caixa - de novo - mágica, a qual os sabores têm o mesmo gosto. Muda-se apenas o sentido... A pimenta torna-se amena. A couve-flor pode virar árvore. Vinho tinto, acalento. O tabuleiro de xadrez vira calçada. A avó faz ceroula virada. E é assim que a gente volta.
Envoltos à caixa, esta que se torna um círculo; como se fosse uma ciranda daquelas da infância - em que a gente não lembra de onde começa - e muito menos em que momento a roda vai deixar de sê-la para virar pião; que quando enche-se de ar, torna-se balão... E tudo o mais fica assim: tão abaixo do chão...